É só começarem as primeiras chuvas que elas já despontam aqui e ali. Imponentes ou singelas, encantam tanto pelo colorido quanto pela forma. Estão nos jardins bem-cuidados das casas, nas praças e nos parques. `A beira da estrada, surgem assim, despretensiosas, enfeitando nossos caminhos. Algumas teimam em aparecer até em lugares improváveis. Quem nunca viu uma frágil e pequena flor se esgueirando entre placas duras e frias de concreto?
Toda primavera é a mesma coisa. Mesmo esperado, o espetáculo é sempre encantador para quem se deixa perder no colorido das pétalas. E inspirador pra quem se deixa perder um pouco de tempo e pensar na vida.
Sou dessas.
Mas sinto que a loucura das horas nos faz insensíveis ao florescer. Nossos olhos não percebem os encantos da Natureza que nos cerca. Acho que é porque queremos ir direto ao fruto. O tempo é curto.
Temos pressa. Não dá para perder tempo olhando os detalhes. Temos prazos a cumprir, metas a bater, frutos a colher. Vivemos a filosofia do resultado. A ditadura do fruto.
No ritmo exigente da vida, estamos tão preocupados com o fruto, que nos esquecemos da flor. Mas florescer ainda se faz necessário. Afinal, é simples: sem flor, não há fruto.
Precisamos nos lembrar que o fruto virá. Não tarda e já começa a época da colheita. O fruto virá no seu devido tempo, e teremos os caminhos cercados deles.
Mas a flor … a flor ainda tem que vir primeiro.
É preciso florescer. Na vida, assim como na Natureza. E as regras valem tanto lá quanto cá: não dá para pular nenhuma etapa.
Se não plantar, não cresce.
Se não crescer, não floresce.
Se não florescer, não frutifica.
Se não frutificar não colhe.
E se todas as etapas são ciência, florescer é arte.
Mas a gente não sabe florescer direito. O lugar não ajuda, ora! O terreno é árido – deve ser por isso! O terreno é úmido – deve ser por isso! Chove muito – deve ser por isso! Chove pouco – deve ser por isso!
Se “a arte imita a vida”, a vida também deveria imitar a arte. E a gente deveria virar flor assim: corajosamente. Em qualquer lugar.
E embelezar os caminhos dos outros.
E perfumar o ambiente em que estamos.
Sem precisar mudar de cidade, estado ou país;
Sem precisar trocar de emprego, de amigos ou de família.
Florescer onde foi plantado. Sem desculpas.
A Natureza sempre encontra um jeito…
Por Cristiane Tuma
Sobre a autora: Cristiane Tuma é médica hematologista de licença, vivendo nos EUA ha 4 anos, mãe da Julia, Beatriz e Laura. Metida a filósofa e escritora e autora do blog www.euabrasil.com